Esse é mais um daqueles dias em que as imagens, os sons e as cores se encaixam de forma tão perfeita que eu começo a duvidar de toda a realidade ao meu redor
O brilho do sol, a comida no prato, a buzina dos carros
Tudo é exatamente como deveria ser e isso ajuda minha cabeça a perceber que talvez nada esteja realmente ali
Como eu saberia a diferença?
Por tantos anos eu me senti tão estúpido e entupido de ideias que pareciam estar ali, prontas para que eu as pegasse e chamasse de minhas
Mas sinceramente... sinceramente... agora estou começando a perceber as diferenças
Confesso que a falsa grandeza de algumas pessoas me deixa incomodado
Mas nada me irrita mais do que a auto piedade que outras se deixam tratar
A soberba é tanta que o mundo se torna um grande tiro ao alvo, e usamos todas as pedras que gostaríamos de tacar em nós mesmos
Terminando por acertar outras pessoas, que tomam essas pedras para si e tudo começa de novo
O brilho do sol, a comida no prato, a buzina dos carros
Cada qual no seu legítimo lugar de direito
Claro, tudo, menos o presidente
Não há um demônio, não há um deus
Há milhões de demônios e milhões de deuses e todos eles caminham sobre a porra da marquise
E todos eles sentem o brilho do sol, o sabor da comida e o som das buzinas
E todos eles fazem barulho
Fazem muito barulho
E lotam cada dia mais esse mundo que eu não consigo imaginar como cabe tanta porra de gente nesse lugar
Eu...
Eu não sei mais o que fazer...
Não sei mais o que falar agora