Sonolento fim de tarde
De um retalho de verão
Cascos que vieram de longe
Martelando sobre o chão
Pés descalços na poeira
Marcas de calo na mão
Lábios que juntam sem pressa
Fragmentos de canção
Vai, carreta vai
Rodando vai
Que o tempo é patrão
Em casa roda que gira
Corta tiras de chão
Vai, boiada vai,
que há bocas que choram
Com fome de grão
E da terra que o boi amassa
Vem a massa do meu pão
À noite vem a saudade
Se chegar branda e faceira
Cantando frases perdidas
Da tuada carreteira
As mãos num gesto de fada
Torcendo vestes caseiras
Penduram trapos de sonhos
Nos arames da porteira
Ainda a última brasa
Teima em ficar acordada
Queimando um resto de vida
Na fogueira já cansada
Lá se vai o carreiteiro
Deixando atrás a tuada
Escrita em letras de poeira
Pelos cascos da boiada