Décimas para Violetas e Margaridas
(Kátya Teixeira / Eva Parmenter / Paulo Nunes)
Violeta e margarida
São uma e são elas todas,
A que recusam a vida,
Aquela que chamam louca,
Perfumosa, perigosa,
Exalada flor ferida
Gritando a dor da injustiça,
Inteiras e em toda parte:
Sobreviver é seu canto,
é o que plantam, é nossa arte
Margaridas, violetas...
Flores simples do meu povo,
Bordando manhãs no ventre
Recomeçam sempre o novo:
Cada menina que nasce
(cada menina que é morta)
Tecem estrelas num manto,
Assim destecem seu medo,
Mais plantam, lutam e cantam
Pro amor acordar mais cedo
Perfume de flor pisada,
Aviltadas tantas vidas
Violetas em vasinhos
E humildes margaridas;
No campo moenda e gado,
Nas ciladas das cidades
São a graxa da engrenagem,
Garapa de sangue e lágrima,
As mais bravas violetas,
Margaridas que são trágicas...
São uma e somos nós todas,
Dos trópicos até o ártico
Gritando contra a injustiça,
Recusando a flor de plástico:
Somos sementes crioulas,
Na terra por nós paridas
Marias a germinar -
Nenhuma a menos! que cresçam
Essenciais violetas,
Multidões de margaridas,
Que floresçam, que floresçam