Sou crescente e viajeira
Mas não posso me mudar
Tenho o umbigo enterrado
Aqui na Serra do Mar
Debaixo de uma roseira
Que minha avó vem podar
Com tesourão de parteira
Sempre que é novo o luar
Mesmo sendo assim trecheira
Tenho o vício de voltar
Levo adiante o meu passado
Meu quintal de ser teixeira
Onde a mata mais fechada
Tem tempo pra uma roseira
E o calor da minha mãe
Faz florir a capoeira
Não desdenho, não invejo
Terra que me ache estrangeira
Não estranho nenhum ar
Seja quente ou seja frio
Eu o respiro pra cantar
Mas dou uma boiada inteira
- ai, saudade é traiçoeira -
Pra um boi só não se apartar
Eu não ligo pra dinheiro
Ele é que tem de ligar
Passo até um ano inteiro
Com café do meu quintal
Meu berço foi de pinheiro
Com um pinho a embalar
Nunca viaja sozinho
Quem tem pra onde voltar