Lucas Santana Lyrics
A Natureza Espera Lyrics
Até o passe preciso, o domínio, o chute, o gol
A natureza espera
Todo gol espera ali na rede jogada de lá espera pra rolar
Toda luz espera na retina
Imagem de lá espera pra formar
Todo som espera no ouvido
um meio de lá para se propagar
Toda areia espera ali na beira onda do mar espera pra quebrar. Pra desabar na areia, na beira do mar, a natureza espera
* O sol ainda não nascera. O mar não se distinguia do céu, exceto por estar um pouco encrespado, como um tecido que se enrugasse. Gradualmente, conforme o céu alvejava, uma linha escura assentou-se no horizonte, dividindo o mar e o céu, e o tecido cinza listrou-se de grossas pulsações movendo-se uma após a outra, sob a superfície, perseguindo-se num ritmo sem fim.
Aproximando-se da praia, cada uma dessas ondas erguia-se, acumulava-se, quebrava e varria pela areia um tênue véu de água branca. A onda parava, partia novamente, suspirando como um ser adormecido cuja respiração vai e vem inconscientemente. Aos poucos, a faixa escura no horizonte clareou como se a borra numa velha garrafa de vinho se tivesse acomodado, deixando transparecer o verde de seu vidro. Ao fundo, também o céu se fez translucido
como se ali baixasse um sedimento branco, ou como se um braço de uma mulher deitada sob o horizonte erguesse uma lâmpada e faixas brancas, verdes e amarelas se espraiassem pelo céu com o as varetas de um leque. Depois a mulher ergueu a lâmpada mais alto, e o ar pareceu tornar-se fibroso, apartando-se da superfície verde, bruxuleando e chamejando em fibras vermelhas e amarelas, como flamas esfumaçadas que se alçam de uma fogueira. Pouco a pouco, as fibras fundiram-se em uma só brasa incandescente, e a pesada cobertura cinza do céu levantou-se e transformou-se num milhão de átomos de um macio azul. Lentamente, transluziu a superfície do mar, fremido e cintilando, até que as linhas escuras apagaram-se quase completamente. Devagar, o braço que sustinha a lâmpada ergueu-se mais alto, e uma larga chama apareceu enfim. Um disco de fogo ardeu na fímbria do horizonte e o mar inteiro acendeu-se em ouro.
A luz incidiu sobre as árvores no jardim, e suas folhas, tornadas transparentes, iluminaram-se uma depois da outra. Um pássaro trinou no alto; houve uma pausa; outro pássaro trinou mais baixo. O sol aguçou os contornos da casa e pousou como a ponta de um leque sobre uma cortina branca, deixando uma impressão digital azul sobre as folhas próximas à janela do quarto de dormir.
A cortina moveu-se de leve, mas dentro da casa tudo era penumbroso e sem substância. Fora, os pássaros cantavam sua vazia melodia.
Toda noite espera todo dia o eixo girar até o sol chegar
Todo broto espera sob a terra chuva de lá espera pra regar.
Com isso seu amor virá de algum lugar
A natureza,
A natureza te espera
Este broto semente prospera esta fertil esfera edifícios, demolições, crateras construções que também vão ficar velhas
este broto semente prospera em árvore fruta amarela vermelho maduro já era e cai para o ventre da terra esse broto, particula prospera
átomo, molécula, matéria explosões, fundições, quimera invisível na atmosfera
esse broto malandro, já era
cresceu em frente à tela
cansou desse papo de espera
e abriu outra janela