Olhos do búfalo
Se você estiver tentando entender
Eu também estou
Eu também estou
Mas se você estiver tentando entender
Eu também estou
Eu também estou
Mas pra você foi tão fácil
Se despedir do que fomos um dia
Pra mim não está nada fácil
Tenho que ouvir um clássico,
Beber um vinho, cerveja,
Me sentir um fiasco
Ou qualquer outra bebida amarga
Com açúcar e fruta ácida
Pra mim não está nada fácil
Se você estiver tentando entender
Eu também estou, eu também estou
Mas pra você foi tão fácil,
Se manter apenas prático
Mas era primavera
E até os leões tinham se amado
Pra mim não está nada fácil
Tenho que ouvir um clássico...
Beber um vinho, cerveja,
Me sentir um fiasco
Ou qualquer outra bebida amarga com açúcar e fruta ácida
Pra mim não está nada fácil
Nos meus dias falta algo
Sua voz, seu cheiro, um trago
Mas pra você tudo é tão fácil
Mas Pra você tudo é tão prático
Vou beber um vinho, cerveja,
Ouvir um clássico.
Ou qualquer outra bebida amarga
Com açúcar e fruta ácida
Pra mim não é nada tátil,
Nada óbvio ou prático
Mas pra você foi tão fácil
Mas pra você tudo é tão prático
"Então o búfalo voltou-se para ela.
O búfalo voltou-se, imobilizou-se, e à distância encarou-a.
Eu te amo, disse ela então com ódio para o homem cujo grande crime impunível era o de não querê-la. Eu te odeio, disse implorando amor ao búfalo.
Enfim provocado, o grande búfalo aproximou-se sem pressa.
Ele se aproximava, a poeira erguia-se. A mulher esperou de braços pendidos ao longo do casaco. Devagar ele se aproximava. Ela não recuou um só passo. Até que ele chegou às grades e ali parou. Lá estavam o búfalo e a mulher, frente à frente. Ela não olhou a cara, nem a boca, nem os cornos. Olhou seus olhos".
LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.