O TEMPO
(José Calixto Rodrigues / Riopretense)
A viola parece que tem sentimento,
Quando vou no torneio seu timbre não falha
Ela afasta problemas do meu pensamento
E me ajuda a pensar no troféu e medalha
Nesse gesto sublime ela vai me envolvendo
E me põe pra rever o painel do sertão
Mas não vejo o monjolo subindo e descendo
Nem mamãe recolhendo fubá no pilão
Já cansei de sonhar com o verde da flora
E acordar mergulhado na recordação
O painel não afasta lembranças de outrora
Porque faltam os detalhes da recordação
Falta a junta de boi circulando a moenda
E garapa caindo no tacho de cobre,
Falta a filha do dono daquela fazenda
A sorrir do meu choro porque eu nasci pobre
Também falta os atalhos por onde eu passava
Pra pescar o lobo e nadar no açude
Falta a velha figueira onde nós se ajuntava
Pra ver quem rapelava as bolinhas de gude
Falta a nossa casinha e também o meu baio
Falta o carro de boi e também o carreiro
Que seria o vovô lá no cabeçalho
Manejando o ferrão sem usar o ponteiro
Eu queria meu pai de viola no peito
Me ensinando a fazer a primeira de DÓ
Violando sentado num banquinho feito
Com facão e martelo um serrote e enxó
Mas o tempo é amigo da dor da saudade
Não adianta a viola querer me ajudar
Só me resta a lembrança da felicidade
Que o janeiro levou e não deixa voltar