Ficou difícil
tudo aquilo, nada disso
sobrou meu velho vício de sonhar
pular de precipício em precipício
ossos do ofício
pagar pra ver o invisível
e depois enxergar
I
que é uma pena
mas você não vale a pena
não vale uma fisgada dessa dor
não cabe como rima de um poema
de tão pequeno
mas vai e vem e envenena
e me condena ao rancor
de repente, cai o nível
e eu me sinto uma imbecil
repetindo, repetindo, repetindo
como num disco riscado
o velho texto batido
dos amantes mal-amados
dos amores mal-vividos
e o terror de ser deixada
cutucando, relembrando, reabrindo
a mesma velha ferida
e é pra não ter recaída
que não me deixo esquecer
[pega de i]