Sustança
(Márcia Tauil e Edimar Silva)
Isto que me leva é vela em água sem barranco
Tão de leve me leva
Não me magoa nem solavanco
Faz achar que sou eu que me levo
Se me levo me atravanco
O que me resguarda é ser desguardado no mundo
Só guarda, não monta guarda
Nem me obriga, vigia rotundo
Vou eu topar o que me aguarda
Com guarda vagueio moribundo
Isto que me clareia é um clarão do lá-de-dentro
Deixa tão claro o que clareia
Desassustado no escuro eu entro
Bichos da noite essa luz afogueia
Fogo de tocha vou treva adentro
O que me sustenta é sustento que vem do sem-prazo
E me sustento no que ele sustenta
Em sua sustança me aprazo
Faço colheita em lavoura farturenta
Fartura de grão plantado no sem-vaso.