Olhos e ouvidos envoltos em maresia
Acordo para a noite das horas de estio
À cabeceira, um copo vazio
Imagino-me um riacho nascido na foz
Subindo uma montanha
Rumo às entranhas do oblívio e da inexistência
Desfaço-me em mil prantos que mais ninguém ouve
Numa revolta esmagada pela singularidade da resignação
Lá fora, estou eu espalhado aos sete ventos
Cinza fria das brasas há muito apagadas
Onde os gatos não se deitam e as palavras não ardem
Navego às cegas no deserto das minhas ideias,
Na volubilidade dos sentimentos mais recônditos
Pesa-me a vazio, pesa-me a imponderabilidade
Pesa-me a ausência do sentido e a leviandade da existência
Esta febre em que me extingo, este torpor ardente
Quero esconder-me de mim mesmo
Atrás da cortina negra do esquecimento
Ou debaixo de um grão de areia
Perco-me no surrealismo da realidade
Para depois adormecer consciente que nada me falta
Tirando tudo o quanto não tenho