Espera, fala
Eu sei bem o que dizes, o tempo que perdes e o juizo
O tempo é pra ser rico, eu sou mas só que não digo
Eu quero que entendas que no final sou só visto
Como que labaredas que consomem tudo isto
Eu pescava todo o peixe a achar que era graudo
Eu cresci, não pesco mais, chama-se avançar, miudo
Numa mesa com tanta gente eu cresci sem saber
Não fosse eu tão atento, não saberia fuder
Não se aprende, não se explica, tudo aqui é taboo
Mas verga-se todas as noites sobre a mesa de bamboo
Eu queria só saber como é que é ser amado
Mas eu tinha de sofrer, cresci sem ter cuidado
Não tens como saber o que não te dão
Como podes sofrer se não te estendem a mão
É mais do que pedir, pedir perdão
É como só sofrer com a sua razão
Sem querer no fim do ano, lá estava eu inchado
A moça com quem brinquei também, não me senti adorado
Senti-me crucificado, senti-me humilhado
Senti na pele todos os pecados sem saber se é pecado
Eu debandei, entreguei o puto à mãe
Tudo o que eu fiz foi pelo umbigo, sim eu sei
Não fui o melhor pai do mundo, tenho noção que errei
Mas só nascida num trono, uma criança é rei
Eu conquistei, revalidei, e indiquei onde estava
Eu prenoitei, eu só lutei porque queria o que o outro dava
Eu era o pai e quando voltei ninguém acreditava
Teso mesmo assim coeso mas nunca tentei ser o pai que o meu filho sonhava
O meu filho amava, o meu filho caia, o pai ia e ajudava
Pai não é quem fode mas pai é sim quem trata
Eu nunca fui pai, boa sorte, chegaste tarde
Não tens como saber o que não te dão
Como podes sofrer se não te estendem a mão
É mais do que pedir, pedir perdão
É como só sofrer com a sua razão
Quando o vi só vi que ele não tinha como ser meu
Era eu naquela idade mas como pude sequer ser teu
Não mereço tudo isto, mas foi o que ela me deu
Disse "tens de ganhar juizo, o meu filho não é teu"
Espera, ele é meu pai
Passado 20 anos, manos de tantos tamanhos
Outros pais apareceram, maioria estranhos
É disso que eu estrenho, é isso que eu disse
Eu disse que entrenho na cabeça o juizo
Minha mãe perdoa, voltei de guerras interiores
É o teu filho que implora no meio de tantos valores
Passa agora a dor no peito para juizes e doutores
Entrega os teus filhos a outros cuidadores
Ele lá voltou, disse que era progenitor
A criança acreditou, o homem achou-se melhor
Eu disse que hoje não, o meu ego não permitia
Voltei a ser o filho do mundo que a minha mãe cria
Agora tudo o que fazes é fragil e comes
És fraco e foges
És parvo e somes
Tudo o que uma criança deve é Fragil e pobre
É agil e forte
És pais mas tu somes
Tu não mereces