Crianças nas praças
Praças no morro
Morro de amores, Rio
Rio da leveza desse povo
Carregado de calor e de luta
Povo bamba
Cai no samba, dança o funk
Tem suingue até no jeito de olhar
Tem balanço no trajeto, no andar
Andar de cima
Tem a música tocando
Andar de trem
Tem gente em cima equilibrando
Andar no asfalto
Os carros quentes vão passando
Andar de baixo
Tem a moça no quintal cantarolando
Rios e baixadas
Com seus vales vale a pena
Sua pobreza é quase mito
Quando fito o seu contorno
Lá do alto de algum dos seus mirantes
Que são tantos
E que te disse
Que miséria é só aqui?
Quem foi que disse
Que a miséria não sorri?
Quem tá falando
Que não se chora miséria no Japão?
Quem tá pensando
Que não existem tesouros na favela?
Então tudo vale a pena
Sua alma não é pequena
Seus santos são fortes
Adoro o seu sorriso
Zona Sul ou Zona Norte
Seu ritmo é preciso
Então tudo vale a pena
Sua alma não é pequena
Somos tios da pobreza social
Somos todos para-brisas do futuro nacional
Eu sou tio, ela é tia
O pavio tá aceso, aqui é quente
País é quente
O mundo é quente
E quem te disse que miséria é só aqui?
Quem foi que disse que a miséria não ri?
Quem tá pensando
Que não se chora miséria no Japão?
Quem tá falando que não existem tesouros na favela?
A vida é bela
Tá tudo estranho
É tudo caro
Mundo é tamanho
Paraíso, para-raios, capital
Parabólicas, pirâmides, trem-bala
Coisa e tal
Lá faz frio, cá é noite
Os açoites nos navios são história
Mas não é glória
Memória triste
E quem resiste faz a raça evoluir
Mas ainda existe guerra
Querendo fazer o mundo ruir
Não tem medida o amor em certos casos
O ódio atinge generais, soldados rasos