Eu sou o tenebroso, o irmão sem irmão,
O abandono, inconsolado,
O sol negro da melancolia
Eu sou ninguém, a calma sem alma que assola, atordoa e vem
No desmaio do final de cada dia
Eu sou a Explosão, o Exu, o Anjo, o Rei
O Samba-sem-canção, o Soberano de toda a alegria que existia
Eu sou a contramão da contradição
Que se entrega a Qualquer deus-novo-embrião pra traficar
O meu futuro por um inferno mais tranquilo
Eu sou Nada e é isso que me convém
Eu sou o sub-do-mundo e o que será que me detém?
Eu sou o Poderoso, o Bababã,
O Bão! Eu sou o sangue, não!
Eu sou a Fome! do homem que come na brecha da mão de quem vacila
Eu sou a Camuflagem que engana o chão
A Malandragem que resvala de mão em mão
Eu sou a Bala que voa pra sempre, sem rumo, perdida
Eu sou a Explosão, o Exu, o Anjo, o Rei
Eu sou o Morro, o Soberano, a Alegoria que foi a minha vida
Eu sou a Execução, a Perfuração
O Terror da próxima edição dos jornais
Que me gritam, me devassam e me silenciam.