Um poema
De olhos negros, cor de mágoa
Que fala de rumores
De ondas ágeis na água
Perde-se um poema
Que traz incenso, fumo e vício
E que deixa no verão
Perfume natalício
Um poema doce, alcoolizado
Um travo forte, envernizado
Pincelada tosca
Luz tépida e fosca
Vidro invisível, martelado
Silhueta em mármore embaciado
Pouso de mosca
Pincelada tosca
Um poema
Numa fita de fim de curso
Que gradue em melancolia
Um homem-urso
Perde-se um poema
De um campestre urbanizado
Talvez na Internet
Ou apenas segredado
Um poema doce, alcoolizado
Um travo forte, envernizado
Pincelada tosca
Luz tépida e fosca
Vidro invisível, martelado
Silhueta em mármore embaciado
Pouso de mosca
Pincelada tosca
Um poema
Que nem sequer faz sentido
Mas que é exclusivo e seu
Livre, solto, descomprometido
Perde-se um poema
Que semeie a confusão
Amargue como piorno
Adoce a indignação
Perde-se um poema
E no há quem queira encontrá-lo
Se eu sem querer o apanhar
Vou preferir libertá-lo