BOITATÁ
(Lucas Franco/ Etel Frota)
Era uma noite sem lua ou vento, tenebrosa escuridão
Caiu do céu aguaceiro imenso, toda a terra encharcou
E cada planta e gente e fera afogada pereceu
Cobra escondida lá dentro do mato foi quem escapou
Em cada olho, cada retina, um restinho só de luz
Vai a serpente se alimentando do tão pouco que há
Terra arrasada, vai no silêncio começando a combustão
Cobra acendida, intestino de fogo, lá vem boitatá
Conta o caboclo, reza a lenda, que em noite de luar
Cobra de fogo vem e queima a mão
De todo aquele que a floresta vem querendo incendiar
Noite cerrada sem lua e vento, no céu negro do Brasil
A alegria que havia há pouco se afundou, lamaçal
Só o silêncio é que resta, escuro, ninguém canta e faz tão frio
Só quarta-feira, só cinza molhada acabou carnaval
E cada bloco já se recolhe, triste volta ao barracão
Mas toda máscara se estraçalha, toda gente acordou
O estandarte virou mortalha, ?tá de luto o coração
Cobra acendendo, quietinha no ninho, já se alimentou
Enredo antigo, reza a lenda, de novo vai passar
Nesta avenida um samba popular
Toma cuidado, gente daninha, que este povo é boitatá