O assassinato é uma paixão como o jogo, o vinho, os rapazes e as mulheres, e jamais corrigida se a ela nos acostumar-mos. O crime é venerado e posto em uso por toda a terra, de um pólo a outro se imolam vidas humanas. Quase todos os selvagens da América matam os velhos se os encontram doentes. É uma obra de caridade por parte dos filhos. Em Madagascar, todas as crianças nascidas às terças, quintas e sextas feiras são abandonadas aos animais ferozes. Constantino, imperador tão severo e querido dos cristãos, assassinou o cunhado, os sobrinhos, a mulher e o filho. Nos mares do Sul, existe uma ilha em que as mulheres são mortas como criaturas inúteis ao mundo quando ultrapassam a idade de procriar. Em Capo Di Monte, se uma mulher dá à luz a duas crianças gêmeas o marido logo esmaga uma delas.
Quando Gengis Khan se apoderou da China mandou degolar à sua frente dois milhões de crianças. Os Quóias furam as costas das vítimas a pancadas de azagaia, em seguida cortam o corpo em quartos e obrigam a mulher do morto a comê-lo. Os Hurões penduram um cadáver por cima do paciente, de maneira a que possa receber na cara toda a imundice que escorre do corpo morto, atormentando assim o desgraçado até que ele expire. Os Irlandeses esmagavam as vítimas. Os Noruegueses perfuravam-lhes o crânio. Os Celtas enfiavam-lhes um sabre no esterno. Apuleio fala do tormento de uma mulher cujo pormenor é bem agradável, coseram-na com a cabeça de fora, dentro da barriga de um burro ao qual tinham sido arrancadas as estranhas. Deste modo foi exposta aos animais ferozes.