Empoeirado, aquele velho berimbau
Empoeirado, aquele velho berimbau
No cantinho desse quarto
Desde que ele largou a mao
Silencio bruto, pesando desde entao
E de dentro dele pra fora
Se espalhou a escuridao
E a nossa cegueira, o seu olhar nao mais enxerga
Cabaça, arame, vintem e verga
Nao sabe segurar sua mao
Cade a voz, que incalavel parecia
Quando cantava louvação
E recitava poesia
Calou o som
De pé pequeno e calcado
Pisando no chao sagrado
Aonde o axé foi derramado
Pra alegrar o coração
E o desespero
Grita alto e indomavel
E a sua dor palpavel
Em cada fibra do meu ser
Por que assim?
Eu so queria entender
Mas os tijolos da parede
Testemunhos de seu Vicente
Nao me sabem responder
E tu capoeira,
Procuras briga em cada roda
Mas pense bem naquela hora
Quem é quem tu vai machucar
Ele é marido,
Ele é filho, ele é pai
É uma vida que se vai
É um mundo na tua mão
Que nao seja em vão
O que seu Pastinha viveu
Nao deixe mais acontecer
Oh quanto mais queria ver
Essa semente florescer
Oi cuida bem
Da arte que tu herdou
Pois nao é minha, nem é sua
Pois é do povo, hoje e ontem,
Que este amanhã criou
Iê, viva meu Deus...