Memória dos bardos das ramadas
Dos ilhéus, das violas lusitanas;
Memória das guitarras castelhanas
Em milongas, pericons e habaneras.
Lembrança das cordeonas afanadas,
Animando fandangos e guerrilhas;
Saudade das tiranas e quadrilhas
Nos sorongos, em noites estreladas.
Tristeza das toadas missioneiras,
Refletindo a angústia guarani!
Nostalgia do terço lau sus cri,
Rezado ao pôr-do-sol, nas reduções.
Fascínio das histórias fronteiriças,
De caudilhos, duelos, entreveros!
Sensações de canchas, parelheiros,
No aconchego noturno dos fogões!
Memória do negro pastoreio,
Da boi-guaçu, das lendas extraviadas,
Das salamancas, das furnas encantadas,
Dos cerros bravos, lagoas e peraus...
Nobreza dos amores confessados
No floreio de endechas cavalheiras
Ao donaire das prendas e sesmeiras,
Das vetustas estâncias, nos saraus.
Memória da payadas quixotescas
De andarengos, malevas, chimarritas,
Dos menestréis de trovas não escritas,
Dos cancioneiros de romance e adaga!
Memória dum passado novelesco,
Desse filão de motes e poesia
Donde gerou-se o estro e a galhardia
Do fidalgo verso gauchesco!